segunda-feira, 28 de março de 2011

Pró-logo-eu


Vou decapitar minha cabeça no altar de Foucault
Desconstruir o engodo de mercado imposto em mim

Não sou superficial, mas chega de nada.
Quero ter direitos humanos a consumir o meu carbono!

Deixarei o meu cabelo crescer até onde ele for.
Vou dizer pra Michelle que bonito mesmo é
Cabelo crespo cheio de rigor

-Chega de tagarelices!
De falar do tempo , futebol e papo de banheiro!

O que me importa se o encontro é no Posto 9, ou no 8,5?!
Nunca mais vida vazia, viva por inteiro

Que o vazio, seja só o tempo de um insight
Uma intimidade surda
Antes da próxima ficção

Se “ a verdadeira beleza acaba onde principia expressão inteligente”
Nem tanto hedonista, nem tão cínico
O corpo é transmutável
E o cérebro incipiente

Enterro o último retrato de Dorian Gray que vi
E entrego as rugas pro espelho

Estado de Sítio!
Nem o amor sólido imaginário de Bauman poderá me salvar!

Nada de redundância
Preciso ressonar a verdade

Não tenho medo da dor!
Ah..quem me dera todos os meus dias fossem feitos de epifanias!

Vou me livrar do papel de vítima do capitalismo cognitivo
Amargo é não entender
A partir de hoje vou incomodar a razão

Eu juro pelo Deus e pelo Diabo que são a mesma pessoa
Que tentarei abrir mão de ser para começar a viver

segunda-feira, 21 de março de 2011

Filosofias de botequim I: Benção pro amor

Dizem por aí que Deus fez o homem por amor. Antes de destruir tudo, a ideia era que ele cuidasse do mundo. Mas, o coitado andava por aí sozinho e cabisbaixo esquecendo do trabalho, aí Deus achou por bem lhe dar uma companheira.

O final a gente já sabe: os dois encontraram uma maçã, dormiram juntos e acabaram com o paraíso.

Desde então, o amor pede calma, muita calma. Se não der certo da primeira vez, junta os cacos e procura o amanhã.

Porque a verdade é que a vida é muito melhor para quem ama. Se pinta, se perfuma, abre as portas de casa e vai à luta. Que onde come um, cá entre nós, é bem mais gostoso quando comem dois.

No fundo, no fundo, todo mundo é “eu sozinho” rezando para ser “Nós juntinhos”.
Que o amor não nos congele com os seus olhos de medusa.

E fique claro: é preciso abrir mão de si mesmo pra entrar no outro. Desapegar dos erros, dividir os espaços, consertar os defeitos arduamente cultivados. Não é para qualquer um.

Como diz o funk, pra ser feliz no amor tem que ter disposição.

E aos que acham que amar não é pra eles, ou que o amor já passou, isso é história pra boi dormir.Vivem na memória machucados antigos, se privam de canções e poesias. Bebem o amor de ontem e acordam todos os dias com ressaca do amanhã.

Arredias, algumas pessoas vivem assim: de dia implodem o peito, e de noite, no íntimo, imploram para serem merecedoras de amor.

Não sabem que o amor é irrequieto, passional, machista e feminista.
Dá um tapa na cara do homem e da mulher que o encara e pede tudo: o samba mais bonito, o choro mais sofrido. A alma de quem tem pra dar.

Não existe certeza. Achar o amor pode levar todo o tempo do mundo, uma vida inteira de desafetos, bailes de carnaval, encontros às cegas, beijos banais, horas de chat no par perfeito, rugas de tentativas e para alguns at’e os cabelos.

Mas, o que importa? Se quando duas vidas de juntam é capaz de mudar tudo.

Que alma é tão pequena que o seu feijão com arroz não mereça vontade de viver?

Que buraco negro cotidiano não quer ser domingo de sol?

Quando um amor verdadeiro passa é como se só dois pudessem mudar o mundo. São duas partes rumo ao tudo.
Novelas à parte, a verdade é que o amor dá trabalho. É preciso se reinventar, costurar histórias, misturar mal-passados com esperanças de futuro. E quando vem ao ponto, dá casamento.

Aos amantes arredios e aos incorrigíveis, com a benção do Chico, o amor avisa:
Não se atire do terraço, não arranque a minha cabeça da sua cortiça, não beba muita cachaça e não se esqueça de mim.
Porque nem lenda, nem crença, nem promessa.

O divino está em quem tem sede no coração, luz nos olhos e coragem para o amor quantas vezes for preciso. Iluminados sejam todos vocês e abençoados de amor até que a vida os separe.

*Texto lido no casamento de Guilherme Laux e Solange.